Domingão, liderança do campeonato em disputa e a mulher quer visitar a mãe
dela, do outro lado da cidade, pela terceira vez só nesta semana. O maridão
começa a elaborar uma boa desculpa para não ter de acompanhá-la, envolvendo uma
dor de estômago ou uma pilha de trabalho para entregar no dia seguinte (ou
ambos). Algo tão épico que soa mais falso a cada detalhe adicionado. Enquanto
ele se faz de mártir, nem percebe que seria muito mais fácil dizer que prefere
ficar em casa.
Fato: homens mentem. Alguns, maquiavelicamente. Mas, a maioria, faz isso de
forma ingênua. Costumamos soltar uma mentirinha ou outra antes mesmo de avaliar
se existe necessidade de usá-la. Tudo porque fomos educados a driblar e não a
passar a bola. Um consenso entre os machos é que a mulherada pega no pé sob
qualquer circunstância. Então, para evitar situações de conflito, em vez de
partir para o gol, a gente ginga, pedala, dá uma catimbada e cai para simular
falta.
Malandro sempre acha que precisa se defender de alguma acusação. Mesmo
inocente, a verdade pode parecer ameaçadora demais. Ele foi ao cinema sozinho,
comprou ingresso com lugar marcado e nem imaginava que sua ex escolheu, por
acaso, a poltrona ao lado. Coincidência engraçada para contar aos colegas de
trabalho na hora do café. Mas o resumo da história, aos olhos da namorada, ainda
seria ele vendo um filminho junto com uma mulher de seu passado. Em alguns
casos, a mentira oferece menos risco.
Homem também se apóia em lorotas antes de admitir que está errado. Como o
motorista que roda em círculos e não para para pedir informação. “Bem que o GPS
disse lá atrás para você virar à esquerda”, a mulher esfrega na cara dele. “Ali
era contramão, o GPS está desatualizado e prefiro um caminho alternativo que
conheço”, ele resmunga, antes de dar a volta no quarteirão e, sorrateiramente,
pegar a rua que ela havia apontado. Por que assumir o engano se pode justificar
suas cabeçadas com uma pretensa sabedoria superior?
Há ainda a mentira para se dar bem. Aumentamos feitos, criamos outros, damos
uma polida na realidade, tudo para sair bonito na foto diante da pretendente.
Poderia chamá-los, simplesmente, de calhordas aqui e limpar minha barra. Mas,
para falar a verdade, todo cara já usou esta artimanha alguma vez na vida (e
aposto que nenhum perdeu o sono depois). Aquele que disser o contrário, pode ter
certeza, está mentindo.
De vez em quando, a gente mente para proteger as mulheres delas mesmas.
Porque vocês adoram fazer perguntas cujas respostas não querem ouvir. Imaginem
um sujeito tão sincero que falasse: “sua bunda parece enorme neste vestido” (do
jeito que ele gosta, aliás); “claro que eu pegaria suas amigas” (é uma pergunta
hipotética, não é?); “já transamos, já papeamos… agora me deixa dormir” (sexo dá
sono, cientificamente provado).
Nada disso é motivo de preocupação. Afinal, a maioria dessas pequenas
encanações desaparece conforme cresce a cumplicidade do casal, que passa a ler a
mente um do outro. O problema é quando brincam com os sonhos de alguém. Como o
casado que jura seguidamente para a amante que vai se divorciar em breve (“só
não posso agora”, diz). Mais do que ninguém ela deveria saber que, se ele já
enrola a esposa, não tem motivo para ser honesto com ela. As mulheres costumam
pegar fácil as mentiras dos homens, mas ficam um tanto cegas quando alguém mexe
com a esperança delas.
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